CAFÉS, LIVROS E VINHOS POR LEONARDO MEIRELES
19 de janeiro de 2021S A R A S O T A
9 de outubro de 2022COLUNISTA | Thais Cerqueira
Q uando decidimos morar nos Estados Unidos, em 2020, os planos eram completamente
diferentes do que realmente se concretizaram. O Coronavírus virou o mundo de cabeça
para baixo. E, obviamente, não fomos poupados. Tínhamos passagem comprada para 5
de abril daquele ano. Eu já havia pedido demissão do antigo trabalho, já tinha fechado contrato
de jornalista com essa revista, meu marido Renato já estava com projetos no exterior, as crianças
já tinham dado tchau aos amiguinhos da escola, várias festas de despedida, coração a mil por
hora. Mas aí veio o inimaginável.
A humanidade entrou em quarentena. E não foi só por 3 meses, como a princípio pensamos. Durou o ano todo. Na verdade, dura até hoje. Expectativas frustradas, mudança tempo- rariamente cancelada. Retomamos nossa vida no Rio de Janeiro de forma capenga, sempre na esperança da pandemia acabar. Em junho de 2021 resolvemos enfrentar os riscos e finalmente partimos para a maior aventura das nossas vidas. Minha filha mais velha, Manuela, agora com 18 anos, deveria fazer o último ano de High School nos Estados Unidos e, de lá, aplicar para a faculdade. O que teria sido bem difícil pra ela.
Como há sempre o lado bom de tudo o que acontece, ela terminou o ensino médio no Brasil em 2020 e conseguiu entrar para a University of South Florida como aluna internacional em 2021, através do programa Pathway. É uma porta de entrada facilitada, oferecida aos estrangeiros por algumas instituições nos EUA, que não exige grandes provas e redações, somente um teste de inglês. A USF fica em Tampa. E como boa mãe brasileira, protetora e acolhedora, eu queria estar por perto. Não na mesma cidade, mas perto o suficiente para que ela continuasse a fazer parte da vida da irmã, Joana, de 9 anos, para que estivesse presente nos momentos importantes da família e vice-versa.
Olhamos várias cidades ao redor da faculdade. Renato só tinha uma exigência: a proxi- midade com o mar. E eu procurava um lugar com menos brasileiros e espanicos para que fosse possível mergulhar de verdade na cultura americana, praticar a língua e fazer valer aquela experiência internacional. Muitos imigrantes vivem em bolhas, só se relacionam com conterrâneos e não se abrem realmente à uma troca com o país de destino.
A humanidade entrou em quarentena. E não foi só por 3 meses, como a princípio pensamos. Durou o ano todo. Na verdade, dura até hoje. Expectativas frustradas, mudança tempo- rariamente cancelada. Retomamos nossa vida no Rio de Janeiro de forma capenga, sempre na esperança da pandemia acabar. Em junho de 2021 resolvemos enfrentar os riscos e finalmente partimos para a maior aventura das nossas vidas. Minha filha mais velha, Manuela, agora com 18 anos, deveria fazer o último ano de High School nos Estados Unidos e, de lá, aplicar para a faculdade. O que teria sido bem difícil pra ela.
Como há sempre o lado bom de tudo o que acontece, ela terminou o ensino médio no Brasil em 2020 e conseguiu entrar para a University of South Florida como aluna internacional em 2021, através do programa Pathway. É uma porta de entrada facilitada, oferecida aos estrangeiros por algumas instituições nos EUA, que não exige grandes provas e redações, somente um teste de inglês. A USF fica em Tampa. E como boa mãe brasileira, protetora e acolhedora, eu queria estar por perto. Não na mesma cidade, mas perto o suficiente para que ela continuasse a fazer parte da vida da irmã, Joana, de 9 anos, para que estivesse presente nos momentos importantes da família e vice-versa.
Olhamos várias cidades ao redor da faculdade. Renato só tinha uma exigência: a proxi- midade com o mar. E eu procurava um lugar com menos brasileiros e espanicos para que fosse possível mergulhar de verdade na cultura americana, praticar a língua e fazer valer aquela experiência internacional. Muitos imigrantes vivem em bolhas, só se relacionam com conterrâneos e não se abrem realmente à uma troca com o país de destino.
Mas esse é um assunto para outro dia. Hoje conto como escolhemos a cidade de Sarasota, pra chamar de lar. A sede do condado com o mesmo nome, fica a uma hora de carro de Tampa. Com uma população de aproximadamente 57 mil habitantes, a cidade é rodeada pelas
praias mais lindas do estado e possui excelentes escolas. Bingo! “É pra lá que vamos!” Decidimos
assim, olhando no mapa, listando prós e contras, assistindo vídeos no youtube e ouvindo nossa
intuição. Procuramos uma corretora brasileira em Sarasota pelo Facebook, que aliás, é nossa
grande amiga até hoje. Ela nos ajudou a alugar um apartamento mobiliado por 45 dias. Dessa
forma teríamos tempo para definir a escola da Joana e consequentemente o bairro que iríamos
morar. As escolas públicas americanas são designadas por zonas.
Só é possível matricular o filho mostrando dois comprovantes de residência na área coberta pela instituição de ensino. E aí que começam os desafios...As casas ao redor das melhores escolas geralmente são supervalorizadas. Esses imóveis são mais disputados pelas famílias, fazendo com que a demanda seja muito maior do que a oferta. E numa disputa de fichas e cadastros quem é mais provável de conseguir o aluguel? O americano com comprovação de renda e histórico de crédito ou o brasileiro que acabou de chegar no país e não tem nem documento? O único jeito de ganhar essa batalha era fazendo uma oferta irresistível. Um ano de aluguel adiantado.
Pra quem vem com o orçamento apertado, contando com um salário mensal, prepare- -se! Esse início é dispendioso, desgastante e o estrangeiro se sente um zero à esquerda. Nenhuma empresa aprova financiamento. Pra contratar serviços como luz, gás e internet é preciso deixar um depósito de segurança. Conta celular só pré-paga. E cartão de crédito com limite mínimo no primeiro ano. Adversidades que fazem parte da vida do imigrante. Superadas dia após dia. Hoje completamos 7 meses nos Estados Unidos da América. Ainda me sinto engatinhando nesse país, tentando formatar uma rotina, entender a cultura, me adaptar às diferenças. Na próxima coluna falarei sobre o sistema de ensino público. Ao mesmo tempo rico, estruturado e ultrapassado. Contraditório como a própria sociedade americana.
Só é possível matricular o filho mostrando dois comprovantes de residência na área coberta pela instituição de ensino. E aí que começam os desafios...As casas ao redor das melhores escolas geralmente são supervalorizadas. Esses imóveis são mais disputados pelas famílias, fazendo com que a demanda seja muito maior do que a oferta. E numa disputa de fichas e cadastros quem é mais provável de conseguir o aluguel? O americano com comprovação de renda e histórico de crédito ou o brasileiro que acabou de chegar no país e não tem nem documento? O único jeito de ganhar essa batalha era fazendo uma oferta irresistível. Um ano de aluguel adiantado.
Pra quem vem com o orçamento apertado, contando com um salário mensal, prepare- -se! Esse início é dispendioso, desgastante e o estrangeiro se sente um zero à esquerda. Nenhuma empresa aprova financiamento. Pra contratar serviços como luz, gás e internet é preciso deixar um depósito de segurança. Conta celular só pré-paga. E cartão de crédito com limite mínimo no primeiro ano. Adversidades que fazem parte da vida do imigrante. Superadas dia após dia. Hoje completamos 7 meses nos Estados Unidos da América. Ainda me sinto engatinhando nesse país, tentando formatar uma rotina, entender a cultura, me adaptar às diferenças. Na próxima coluna falarei sobre o sistema de ensino público. Ao mesmo tempo rico, estruturado e ultrapassado. Contraditório como a própria sociedade americana.