VIVENDO O ‘AMERICAN DREAM’
15 de março de 2022THE RINGLING
28 de junho de 2023COLUNISTA | Thais Cerqueira
U m dos motivos pelos quais escolhemos a cidade de Sarasota, na Flórida, foi pela qualidade das escolas
públicas. Através de sites como o “greatschools’’ é possível ver a nota de uma instituição de ensino
nos Estados Unidos. Essa nota é baseada em uma série de fatores, incluindo o resultado dos alunos
nos testes padronizados dos estados, a proporção aluno/professor, o desempenho dos estudantes ao longo dos
anos, informações sobre equidade, diversidade e avaliações de pais.
Para quem não tem como visitar as escolas, essa é a única ferramenta de pesquisa e comparação. E foi através dela que decidimos também o bairro onde gostaríamos de morar. Cada escola pública tem a sua “’área de cobertura”. Para estudar numa instituição específica é preciso morar perto dela. No nosso caso queríamos uma Elementary School nota 10, que vai do jardim de infância até a quinta série. Minha filha mais velha Manuela já tinha terminado o ensino médio no Brasil. O foco ficou na pequena Joana, de 8 anos, que iria para o 3 ano do Fundamental 1. As Middle Schools englobam do 6o aos 8o anos e as High Schools incluem o 9o ano e o ensino médio, totalizando 4 anos dessa última fase escolar.
Quanto maior a nota de uma escola, mais valorizada a região ao redor dela, já que a procura das famílias, pelo local, é enorme. Foi um desafio encontrar uma casa bacana, num preço acessível no bairro de Palmer Ranch. Mas eu estava animada em proporcionar à Joana acesso à melhor Elementary da região. Além de jornalista, sou pedagoga e apaixonada por educação. Trabalhei em diversos colégios no Rio de Janeiro.
Me encantei pelo construtivismo. Uma abordagem pedagógica que preza pela construção do conhecimento através de interações e situações mediadas pelo professor. O aluno é protagonista, participa ativamente do seu aprendizado. Os profissionais lutam por uma metodologia contemporânea, que preencha as demandas do mundo atual, flexível, veloz, globalizado, autodidata. E era mais ou menos essa educação vanguardista que eu esperava de uma das maiores potências do mundo, os Estados Unidos.
Mas…não foi bem isso que encontrei por aqui… para começar, a escola reflete as características da sociedade americana (ou será o contrário?). Competitividade, foco em resultados e a famosa meritocracia. A metodologia usada é centrada numa abordagem behaviorista. A aprendizagem ocorre através de estímulos e reforços positivos, mais conhecidos como estrelinhas, certificados, festas e doces! Muitos doces e junk food.
A criança terminou de ler o livro e respondeu o questionário? Chocolate, acompanhou a fila quietinha? Bala. Tem também os adesivos para o dever de casa e as medalhas de honra por ser gentil, cooperativo, bom amigo… Minha filha Joana, que sempre foi muito atenta e comportada adorou o esquema! Ela nunca tinha ganhado nada por ser uma aluna tranquila e esforçada.
Agora estava acumulando recompensas! E isso a motivou a correr atrás de mais reconhecimento.
O behaviorismo funciona. Ninguém pode negar. Mas ele inverte e máscara os reais motivos da aprendizagem. Outro problema é quando o aluno, por algum motivo, não consegue alcançar os objetivos. E esses motivos podem ser inúmeros! Instabilidade ou imaturidade emocional, física, psíquica causada por problemas familiares, traumas, transtornos não diagnosticados etc., etc., etc. Mas as regras são claras, quem não as cumpre, punição. Conversou durante a aula? Menos 10 minutos de pátio. Não decorou a tabuada? Fica sem o sorvete prometido.
Para quem não tem como visitar as escolas, essa é a única ferramenta de pesquisa e comparação. E foi através dela que decidimos também o bairro onde gostaríamos de morar. Cada escola pública tem a sua “’área de cobertura”. Para estudar numa instituição específica é preciso morar perto dela. No nosso caso queríamos uma Elementary School nota 10, que vai do jardim de infância até a quinta série. Minha filha mais velha Manuela já tinha terminado o ensino médio no Brasil. O foco ficou na pequena Joana, de 8 anos, que iria para o 3 ano do Fundamental 1. As Middle Schools englobam do 6o aos 8o anos e as High Schools incluem o 9o ano e o ensino médio, totalizando 4 anos dessa última fase escolar.
Quanto maior a nota de uma escola, mais valorizada a região ao redor dela, já que a procura das famílias, pelo local, é enorme. Foi um desafio encontrar uma casa bacana, num preço acessível no bairro de Palmer Ranch. Mas eu estava animada em proporcionar à Joana acesso à melhor Elementary da região. Além de jornalista, sou pedagoga e apaixonada por educação. Trabalhei em diversos colégios no Rio de Janeiro.
Me encantei pelo construtivismo. Uma abordagem pedagógica que preza pela construção do conhecimento através de interações e situações mediadas pelo professor. O aluno é protagonista, participa ativamente do seu aprendizado. Os profissionais lutam por uma metodologia contemporânea, que preencha as demandas do mundo atual, flexível, veloz, globalizado, autodidata. E era mais ou menos essa educação vanguardista que eu esperava de uma das maiores potências do mundo, os Estados Unidos.
Mas…não foi bem isso que encontrei por aqui… para começar, a escola reflete as características da sociedade americana (ou será o contrário?). Competitividade, foco em resultados e a famosa meritocracia. A metodologia usada é centrada numa abordagem behaviorista. A aprendizagem ocorre através de estímulos e reforços positivos, mais conhecidos como estrelinhas, certificados, festas e doces! Muitos doces e junk food.
A criança terminou de ler o livro e respondeu o questionário? Chocolate, acompanhou a fila quietinha? Bala. Tem também os adesivos para o dever de casa e as medalhas de honra por ser gentil, cooperativo, bom amigo… Minha filha Joana, que sempre foi muito atenta e comportada adorou o esquema! Ela nunca tinha ganhado nada por ser uma aluna tranquila e esforçada.
Agora estava acumulando recompensas! E isso a motivou a correr atrás de mais reconhecimento.
O behaviorismo funciona. Ninguém pode negar. Mas ele inverte e máscara os reais motivos da aprendizagem. Outro problema é quando o aluno, por algum motivo, não consegue alcançar os objetivos. E esses motivos podem ser inúmeros! Instabilidade ou imaturidade emocional, física, psíquica causada por problemas familiares, traumas, transtornos não diagnosticados etc., etc., etc. Mas as regras são claras, quem não as cumpre, punição. Conversou durante a aula? Menos 10 minutos de pátio. Não decorou a tabuada? Fica sem o sorvete prometido.
Foi desrespeitoso com o colega? Não participa
do cineminha. O sistema não dá espaço para o pensamento crítico e falta flexibilidade. E as consequências
dessa educação você vê nas ruas, nos profissionais de
diferentes setores, no trânsito, no relacionamento com
vizinhos…Ninguém tem paciência pra motorista que
pega a faixa errada, o morador da casa ao lado liga pra
polícia se ouvir música alta 1 minuto depois do horário
permitido, o rapaz contratado pra fazer um serviço não
vai te ajudar com nenhum outro, a grande maioria foi
educada pra pensar dentro da caixinha, reproduzindo
modelos, padrões, sem muita contestação, sem “jeitinho
brasileiro”.
Não que isso seja uma coisa boa. Pelo contrário. Odeio uma “gambiarra”. Mas sinto falta do nosso “jogo de cintura”. Por outro lado, os estadunidenses são claros e diretos. Sem burocracia. Os órgãos públicos funcionam. Cada um cumpre seu papel dentro da sociedade, como foram ensinados, desde pequenos, nas escolas. As leis existem para serem cumpridas. Não há impunidade.
Outra característica dos americanos é que eles possuem um enorme senso de comunidade. A cultura do voluntariado é alimentada desde cedo no ambiente escolar. Os maiores ajudam os menores. Os pais participam ativamente dos eventos, promovem atividades de integração e arrecadação de fundos.
Não que isso seja uma coisa boa. Pelo contrário. Odeio uma “gambiarra”. Mas sinto falta do nosso “jogo de cintura”. Por outro lado, os estadunidenses são claros e diretos. Sem burocracia. Os órgãos públicos funcionam. Cada um cumpre seu papel dentro da sociedade, como foram ensinados, desde pequenos, nas escolas. As leis existem para serem cumpridas. Não há impunidade.
Outra característica dos americanos é que eles possuem um enorme senso de comunidade. A cultura do voluntariado é alimentada desde cedo no ambiente escolar. Os maiores ajudam os menores. Os pais participam ativamente dos eventos, promovem atividades de integração e arrecadação de fundos.
Doar dinheiro, conhecimento, tempo ou energia é comum, habitual e admirável. Há muitas coisas
que podemos aprender com eles. Mas também há
muitas coisas que precisam ser contestadas, não absorvidas. O que é mais valioso nisso tudo, é o fato de
estarmos aqui, justamente fazendo essa análise. Morar
em outro país não é mudar seus hábitos e valores. É
enriquecê-los com outra cultura. É poder ampliar o
olhar, refletir, questionar e se tornar uma pessoa melhor.